No livro A Era do Capitalismo de Vigilância: a luta por um futuro humano na nova fronteira do poder, Shoshana Zuboff começa, antes mesmo de começar de fato o livro, com algumas definições sobre o que é capitalismo de vigilância.
Essas definições se entremeiam em todas as partes do livro e tem diferentes nuances e são, em última instância, uma tentativa de definir segundo algumas perspectivas. Sob uma perspectiva de lógica, sob a perspectiva de ordem econômica, sob a perspectiva de sua estrutura, sob a perspectiva de significado frente aquilo que conhecemos, sob a perspectiva de evolução do capitalismo atual e assim por diante.
Acho que isso faz todo sentido, porque qualquer tentativa de definir uma realidade tão complexa e que faz parte de tantas formas de produzir, viver, agir, consumir e dominar tende a falhar se tentarmos encapsular em uma única frase curta. Por isso, a autora já de cara nos coloca de frente com oito definições, ou subdefinições, que tentam abarcar tudo aquilo que o capitalismo de vigilância pode ser:
- Uma nova ordem econômica que reivindica a experiência humana como matéria-prima gratuita para práticas comerciais dissimuladas de extração, previsão e vendas;
- Uma lógica econômica parasítica na qual a produção de bens e serviços é subordinada a uma nova arquitetura global de modificação de comportamento;
- Uma funesta mutação do capitalismo marcada por concentrações de riqueza, conhecimento e poder sem precedentes na história da humanidade;
- A estrutura que serve de base para a economia de vigilância;
- Uma ameaça tão significativa para a natureza humana no século XXI quanto foi o capitalismo industrial para o mundo natural nos séculos XIX e XX;
- A origem de um novo poder instumentário que reivindica domínio sobre a sociedade e apresenta desafios surpreendentes para a democracia de mercado;
- Um movimento que visa impor uma nova ordem coletiva baseada em certeza total; e
- Uma expropriação de direitos humanos críticos que pode ser mais bem compreendida como um golpe vindo de cima: uma destruição da soberania dos indivíduos